quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Arcanos "mal-ditos" do Taro: O Dependurado (Parte 1)




OS ARCANOS "MAL" DITOS DO TARO: O DEPENDURADO

(texto extraído do Livro "Taro, A Rota do Ator" de
Marcio Isael Larsen, a ser publicado em breve)

Qualquer curioso sobre Taro já se deparou com os malsinados  "Arcanos malditos" , ou "cartas de azar". 
A razão para títulos nada honrosos reside, paradoxalmente, em eventos nobres relacionados aos mais significativos progressos nos domínios da consciência
Mas como isso pode ser objeto de TEMOR, de horror?
Não é novidade para ninguém: o homem tende a diabolizar a experiência do Real para santificar a ilusão. Qualquer ameaça ao centro  de gravidade denominado "eu", gera reações contrárias. E com o Taro não foi diferente!
O primeiro Arcano que anuncia a "morte" desse  "eu" é o Arcano 12, conhecido como "O Enforcado", muito embora o personagem esteja Dependurado. E por essa razão ele será o Arcano inaugural da série Arcanos mal-ditos do Taro.


Descrevendo o Simbolo


O que mais chama atenção na simbologia deste arcano é a posição do personagem: ele está de “cabeça para baixo”, ou melhor, dizendo, “dependurado” que a propósito, é o termo correto para designar este arcano(ainda que "enforcado" também tenha sentido). 
Mas o que significa estar de cabeça para baixo? Significa uma nova visão, insinuando que mediante tal postura podemos contemplar a vida do infinito para o finito, ou do mundo das causas para o mundo dos efeitos. O andarilho caminha com os pés no céu, experimentando duas gravidades: a material e a espiritual. Por dedução, podemos inferir que ele vive numa condição conflituosa. Será?

Observando a carta com cuidado, veremos que a expressão do personagem é tranquila e calma, sem demonstrar incomodo quanto a postura assumida. Interessante notar que se colocarmos a carta de cabeça para baixo (que dentro da nossa perspectiva é a posição "correta"), teremos o andarilho fazendo o Asana (postura/forma do Hatha Yoga) da Árvore Vrikshasana, sendo que na maioria das representações ele está dependurado justamente numa árvore,uma alusão clara à Árvore Cabalística(Otz Chaim). Mas também chama atenção que na posição correta da carta,ele faz outra postura do Yoga:  Viparita karani(invertida) que segundo os preclaros yogues favorece a irrigação do cérebro e a tonificação das glândulas situadas na cabeça( as glândulas denominadas espirituais). 
Detalhe interessante é que os galhos cortados ladeando o seu corpo lembram feridas abertas causadas, talvez, enquanto ele se debatia contra a postura ingrata a que fora inicialmente submetido. Porque nem sempre ele concordou com essa posição...

A experiencia pouco consciente desse arcano - e todos nós o experimentamos - certamente  é tingida pela dor: a dor da renuncia obrigatória, assimilada, não raro, como "punição", "castigo" ou demérito ante a Deus. No entanto, até mesmo os mais despertos inicialmente podem demonstrar relutância frente a uma condição amiúde restritiva. Mas tão logo o tormento inicial seja superado, o homem extrai os benefícios da nova posição ao se abrir para novas(e inevitáveis) formas de perceber a vida e de agir partindo de outro "lugar".

No desenho vemos que os braços formam junto com a cabeça um triângulo invertido ( apontado para baixo), enquanto que as pernas formam o número "quatro". Esse postura de mergulho é muito significativa: agora é o momento para o homem “existencializar a essência” e “essencializar a existência”,ou usando a linguagem alquímica, “fixar o volátil e volatilizar o fixo”.  Isso se explica pelo fato do triangulo simbolizar o Espirito Trino, enquanto o numero quatro  representa o aspecto forma, a matéria. Portanto, O Dependurado realiza uma obra alquímica hercúlea ao elevar a qualidade da matéria para estados mais diáfanos e responsivos à Consciência Pura; e se capacita a carrear para esse mundo material um maior coeficiente de Inteligencia pura, de Vontade e de Amor.

Quando transpomos a figura do Dependurado sobre a Árvore da Vida, notamos que seus pés tocam duas das Sephirot (esferas, planos de existência, mundos) mais elevadas da Árvore da Vida: Binah e Chokmah, respectivamente Entendimento e Sabedoria. Sua cabeça toca no ponto mais baixo da existência: a  Sephirat  Malkut,no entanto, é essa posição que o permite contemplar a dimensão mais alta da criação: a Sephirat Kether(Coroa). Kether é o ponto de origem de todos os planos e de todos os mundos; e o fascinante é que o topo da cabeça humana corresponde justamente a Kether!  Vemos, portanto, que O Dependurado encosta a sua "coroanos "pés de Deus", ou seja, em Malkut, a base material da existência. 
O gesto de se curvar aos pés dos verdadeiros Mestres, ou de encostar a fronte no chão pode ter suas raízes nessa simbologia. Já o gesto outrora cavalheiresco de tirar o chapéu significava, em sua origem, que o espírito personificado pelo gênero masculino mostrava a sua realeza(coroa) à matéria, personificada pelo feminino. É na matéria que o espírito deve infundir a sua Presença para se fazer criador e Reinar. Afinal, a palavra Malkut significa REINO.










No Taro Ancestral Path o Dependurado é simbolizado por um feto, uma representação assaz realista: nascemos de cabeça para baixo, ou seja, a primeira parte do corpo que entra em contato com o mundo é a coroa, Kether. Portanto, todos nós somos potencialmente Reis no Reino(Malkut) de Deus.






Continua na parte 2


Texto extraído do livro “Taro : a rota do ator", de autoria de Marcio Isael Larsen a ser publicado em breve.


(71427321893-212309909)